O Grupo Mateus, uma das maiores redes de varejo do país e orgulho empresarial do Maranhão, revelou um rombo de R$ 1,1 bilhão em seus estoques, resultado de erros contábeis, falhas de controle interno e perdas por furtos. A revelação derrubou as ações da companhia em 20%, eliminando mais de R$ 2 bilhões em valor de mercado.
O problema veio à tona no dia 13 de novembro, quando a empresa admitiu que seu estoque estava superavaliado: acreditava possuir R$ 6 bilhões, mas o valor real era de apenas R$ 4,9 bilhões. O impacto foi imediato e abalou a credibilidade da varejista, que abriu capital em 2020 e vinha registrando forte expansão.
Alertas ignorados desde 2021
Embora o rombo só tenha sido divulgado agora, sinais de que algo estava errado surgiram anos antes. A auditoria Grant Thornton já havia apontado, em 2021, 42 deficiências moderadas, destacando o controle de estoque como o ponto mais crítico. Mesmo assim, os problemas deixaram de aparecer nos documentos enviados à CVM a partir de 2022, substituídos por declarações genéricas de que não havia falhas relevantes.
A situação se agravou com a chegada da nova auditora, a Forvis Mazars, que assumiu a partir de 2025 e não registrou ressalvas nos balanços trimestrais, apesar da reavaliação interna que já indicava distorções bilionárias. A falta de clareza nas explicações oferecidas pela diretoria durante a teleconferência de resultados aumentou a desconfiança do mercado.
Lojas sem inventário e roubos internos
O crescimento acelerado do grupo também expôs fragilidades operacionais. Algumas lojas passaram até dois anos sem inventário físico, dificultando a checagem do que realmente estava nas prateleiras. Em meio à desorganização, vieram à tona relatos de desvios internos, principalmente em áreas de descarregamento, onde produtos não chegavam ao estoque apesar da entrada das notas fiscais.
O vice-presidente financeiro, Tulio Queiroz, afirmou que medidas emergenciais já estão em andamento, incluindo a destinação de R$ 15 milhões para reforçar equipes e realizar inventários mais frequentes.
Como o rombo pode ter surgido
Entre os fatores que podem ter inflado artificialmente o estoque ao longo dos anos estão:
- Erros tributários estaduais, já que cada estado adota regras próprias para ICMS, PIS e Cofins, dificultando o cálculo correto do custo de entrada das mercadorias.
- Bonificações mal contabilizadas, quando produtos extras enviados como bônus pela indústria são registrados de forma inadequada — mecanismo que já causou distorções em outras varejistas, como Carrefour e Americanas.
